Em um mundo que tem sido abalado diariamente pela pandemia do Coronavírus, parece quase impossível pensar em futuro, uma vez que cada um de nós ainda está lutando para que nossas famílias e negócios consigam chegar, pelo menos, até o dia de amanhã. O vale da incerteza — esse período de profunda instabilidade da economia em que vivemos — parece infindável. Seria pretensão, portanto, tentar entender quais são as principais tendências do mercado automotivo?

Talvez sim. Mas refletir sobre todas as transformações que o Coronavírus está trazendo também tem me ajudado, enquanto pessoa e enquanto líder de uma empresa, a esperar dias melhores. Porque eu acredito, firmemente, que a Covid-19 está fundamentando a construção de uma nova economia. Estamos vendo as bases de um novo varejo automotivo, também.

A conectividade, a digitalização e processos fundamentados em tecnologia, por exemplo, sempre foram tidos como algo do futuro. Jamais pensaríamos em delivery de veículos ou em test drive online e ao vivo — ações que estão sendo feitas pelas concessionárias neste momento para se manterem vivas mesmo durante a crise.

O que pude perceber, observando as reações do mercado nos últimos meses e após uma profunda pesquisa, é que concessionárias e montadoras terão que ser ágeis para responder às vontades e necessidades que estão surgindo por parte dos consumidores.

Este blogpost não tem intenção alguma de ser definitivo, mas sim um ponto de partida de uma reflexão sobre as tendências do mercado automotivo que nos aguardam. Falarei, principalmente, sobre mudanças no processo de vendas, uma possível evolução do varejo digital e como as concessionárias e revendas poderão se tornar competitivas nesse cenário. Vamos lá?

transformação digital no setor automotivo

1. Expansão do varejo digital

Tudo indica que o crescimento do varejo digital vai ser impulsionado pelos clientes que lêem opiniões sobre a experiência on-line e buscam as concessionárias motivados por isso.

Neste momento, o processo de compra de veículos já está envolvendo menos tijolos e mais cliques. O que quero dizer é que os compradores estão fazendo muito trabalho online nesta quarentena, e que vai além da simples comparação de preços. 

A necessidade de consumo de informações durante o processo de compra tem trazido a necessidade da realidade virtual. É isso que muitas concessionárias e montadoras têm feito ao oferecer, por exemplo, test drives online (via chats, WhatsApp ou plataformas de transmissão, como Hangouts Google).

Especialistas de marketing acreditam que as demandas dos fabricantes (OEMs, Original Equipment Manufacturer) vão acabar alimentando ainda mais a adoção contínua do varejo digital. É como pensa Michelle Denogean, Chief Marketing Officer, em publicação na página Driving Sales.

O fato é que quase todos os indivíduos das novas gerações lêem as opiniões sobre as empresas locais on-line e isso faz com que o marketing digital faça sentido em meio a essas mudanças no segmento das vendas de automóveis.

Quando a realidade é a dos lucros diminuindo, toda ajuda é bem-vinda. Especialmente se as ferramentas digitais puderem ajudar as concessionárias a agilizar o processo de compra.

Além disso, o comércio on-line — que já é reconhecido como o futuro do setor automotivo —, ajuda também a diversificar as fontes de lucro, com a venda de acessórios, peças e serviços pelo site da concessionária.

 

2. Gerações de consumidores mais curtas

Outro aspecto importante a ser avaliado tem relação com o comportamento dos atuais e futuros consumidores. Tudo indica que, daqui para frente, as novas gerações serão cada vez mais “curtas”.

O conceito de “compressão geracional” foi introduzido pela consultoria The Future Hunters. Segundo eles, em breve não iremos mais agrupar os consumidores mais jovens por décadas, mas pelo tipo de tecnologia com que cresceram.

Em vez de décadas, uma geração poderá durar apenas dois ou três anos, pois a tecnologia está mudando de formas veloz. E é claro que fabricantes e revendedores de veículos precisarão ser ágeis para responder às vontades e necessidades de cada nova onda.

Uma dessas ondas é a dos Cybrids (também conhecidos com Geração Z), uma geração de consumidores que diferem dos nativos digitais (Millenials) porque têm uma relação quase simbiótica com a tecnologia.

Essa geração é ainda mais prudente do ponto de vista financeiro e está mudo mais preocupada com o meio ambiente. Estão menos interessados em possuir coisas e mais interessados na relação tempo/valor do que consomem. E isso nos leva à próxima grande tendência…

3. Car sharing e veículos autônomos

O uso regular de serviços de carona aumentou nos últimos anos, segundo o estudo da Deloitte. Quando os consumidores vêem os benefícios e os custos baixos no compartilhamento de carro, passam a reconsiderar a necessidade de ter um veículo como propriedade.

Preocupações quanto ao fato de não dirigir alcoolizado ou, simplesmente, de não ter lugar para estacionar, também são levadas em conta e contribuem para fortalecer a tendência de car sharing.

A pesquisa da Deloitte mostra que os indivíduos são unânimes em apoiar maior acesso a transportes coletivos como alternativa para redução do congestionamento do tráfego nas grandes cidades.

Além disso, os consumidores estão menos preocupados com a segurança, portanto mais confiantes na tecnologia dos carros autônomos, que são uma outra ponta dessa tendência relacionada à mobilidade alternativa.

Por se tratar de uma tecnologia em desenvolvimento, a confiança dos consumidores ainda não está consolidada.

Dados da pesquisa Deloitte mostram que relatos de acidentes com carros autônomos abalam a confiança do consumidor. Revelam também que a possibilidade de existirem testes com esses veículos em vias públicas é vista com preocupação por 48% da população da República da Coreia e por 46% da população da Alemanha.

O fator principal por trás dessa megatendência é a mentalidade dos mais jovens, mais sintonizada com alternativas plurais de mobilidade.

Nesse sentido, a continuidade no aprimoramento da tecnologia dos veículos autônomos e a maior aceitação do conceito de compartilhamento são mudanças esperadas.

Um relatório da PWC prevê ainda que, em 2030, 1 a cada 3 quilômetros percorridos numa jornada poderá envolver o conceito de compartilhamento.

O ponto positivo é que, embora a indústria automotiva possa ter visto anteriormente a carona como uma ameaça, agora está trabalhando em várias maneiras de adotá-la.

Diversas marcas já anunciaram parceria com empresas de car sharing. Além disso, não é segredo que o varejo, principalmente o de aluguel, tem ganhado bastante com um novo público: o dos motoristas profissionais de aplicativos.

tendências do mercado automotivo

4. Veículos movidos a combustíveis alternativos

Segundo um relatório da PWC citado pela página Advanced Resource Managers, a mobilidade do futuro é vista como:

  • eletrificada;
  • autônoma;
  • compartilhada;
  • conectada;
  • atualizada anualmente.

A publicação, que trata de tendências do mercado automotivo no Reino Unido, aborda o fato de que avanços tecnológicos provocam mudanças na percepção dos compradores sobre o uso e a posse de um automóvel.

Diante desse contexto, os automóveis movidos a combustíveis alternativos tem tido um crescimento na procura. No Reino Unido, por exemplo, desde 2016 essa demanda vem crescendo.

Lá, a demanda por carros os híbridos supera a de elétricos. Mas embora exista esse crescimento na procura, a desconfiança do consumidor ainda é algo a ser superado.

Existe certa apreensão em relação ao alcance da área para circulação desses carros e também dúvidas sobre os custos de financiamento que supostamente venham a surgir.

É fácil perceber que a indústria automotiva tende a se concentrar no que os clientes desejam: eles querem carros mais ecológicos que não precisam de combustíveis fósseis para funcionar.

A legislação governamental que incentiva esse tipo de produção, portanto isso pode desencadear ainda mais inovações em um curto período de tempo.

No entanto, é preciso lembrar que a sustentabilidade tem um preço.

Existe uma preocupação mundial com o aumento de dióxido de carbono. Para reduzir as emissões, alguns países buscam realizar acordos, então esse cenário influencia tanto a procura quanto a fabricação dos automóveis elétricos.

Quando são estabelecidas metas gerais de emissão por frota, por exemplo, significa que uma forte mobilização vai ser necessária para o cumprimento dessas metas. Ou seja, pode redundar em mais eletrificação. Inclusive para automóveis do tipo premium.

O cenário impele as fabricantes de automóveis a investirem mais em mobilidade eletrônica, mas também em híbridos e baterias mais sofisticadas. As OEMs também se voltam para tecnologias da aerodinâmica dos veículos.

 

5. Abordagem centrada no cliente

Profissionais de consultorias em soluções urbanas acreditam que uma abordagem centrada no cliente leva a soluções mais inovadoras de compartilhamento de jornadas, que por sua vez contribui para solucionar problemas de engarrafamento, estacionamento e poluição do ar.

É por isso que a tecnologia está sempre amparando os processos e alavancando as transformações. Nesse sentido, o departamento de TI tornou-se agente ativo de inovação e produção.

O fato é que métodos convencionais não funcionam mais para atender às necessidades dos clientes.

 Então, é de setores especializados em tecnologia que surgem as tendências do mercado automotivo, seja para aprimorar os processos de venda, seja para aprimorar os próprios veículos ou o funcionamento das indústrias.

O atendimento ao cliente por meio de múltiplos canais, todos alinhados em uma abordagem multicanal, é outro desdobramento das soluções tecnológicas no mercado de automóveis.

As concessionárias precisam entender o que é uma abordagem omnichannel e como entregar isso ao cliente. O foco deve estar sobre a experiência personalizada do comprador de carros, já que é ele quem está no centro do processo atualmente, e não mais o produto.

Inclusive o próprio funcionamento das soluções digitais e softwares à serviço do marketing para a atração dos clientes devem, da mesma forma, privilegiar uma abordagem centrada no usuário.

6. Automação

É uma das grandes tendências do mercado automotivo por possuir aplicação ampla, desde à indústria até os softwares que otimizam o processo de venda.

Mas como e em quais aspectos a automação beneficia a indústria? Já entendemos que a fabricação é cada vez menos realizada por processos manuais e, assim, resulta em eficiência de produção e menores custos.

No entanto, o trabalho de máquina, apesar de afetar as linhas de produção tradicionais, permitem a movimentação de dados passíveis de análises que podem suscitar em melhorias dos processos. São os dois lados da moeda quando se trata de aprendizado de máquina.

Uma informação alarmante é que, segundo a página Advanced Resource Managers, até mercados de regiões economicamente desenvolvidas, como o Reino Unido, sofrem com deficiência no contingente de profissionais habilidosos e conhecedores de tecnologia em processos de automação. 

7. Conectividade

A conectividade dos produtos desempenha um papel crucial para garantir que as necessidades individuais do consumidor sejam atendidas da melhor maneira possível e com eficiência.

Dentro dessa megatendência, podemos analisar a internet das coisas (IoT) em funcionamento dentro dos automóveis para melhorar a experiência do usuário.

Com carros mais conectados, o usuário usufrui de mais conveniência e pode experimentar situações únicas. A estrutura de infotainment (information and entertainment) no interior dos automóveis tem sido cada vez mais apoiada em tecnologia.

Para as concessionárias, itens dessa espécie vão passar a fazer diferença na decisão de compra do usuário. No entanto, segundo um estudo recente da Deloitte, feito com 35.000 consumidores em 20 países, o aumento da conectividade do veículo não é visto como benefício por todos os consumidores. 

Na Índia, o percentual de consumidores que enxerga a conectividade como benefício é de 80%, enquanto na Alemanha é de 36%.

Essa variação mostra que alguns consumidores preocupam-se com a segurança na movimentação e no compartilhamento de dados a partir de um veículo conectado.

Outro apontamento do estudo é que nem sempre, e nem nos mercados de todos os países, os consumidores estão dispostos a assumir os custos para a implementação de conectividade avançada, como para a melhoria das estradas, por exemplo.

Ainda assim, paralelo a essa coleta abrangente de informações feitas pela pesquisa, as previsões são de que os carros consigam se comunicar com a própria estrutura de tráfego local, ou que avisem quando é preciso manutenção em vez de o proprietário ter de seguir um calendário anual de revisões do veículo.

Vale lembrar que a conectividade é tida como uma das principais tendências do mercado automotivo até 2030. Inclusive, alguns executivos chineses classificam-na dessa forma, juntamente com a digitalização.

O que podemos dizer, sem dúvidas, é que se trata de um pré-requisito essencial para o fornecimento de serviços e conteúdos adicionais dentro dos carros. Cada vez mais, a interface homem-máquina vai ser desenvolvida para se tornar mais fácil de usar.

 

O fim das concessionárias é uma das tendências do mercado automotivo?

Quando avaliamos o leque de possibilidades propostas pelos avanços da tecnologia fica claro que as concessionárias de veículos não vão desaparecer, apenas precisam mudar o modelo de negócio para fazer parte da transformação digital e variar suas fontes de lucro.

A venda de peças, acessórios e serviços é o caminho mais evidente para isso, no entanto o importante é que se consagrem enquanto centros de referência para o consumidor, concentrando serviços de qualidade, atendimento especializado e produtos de procedência confiável.

Tem que valer à pena para o comprador ir a uma concessionária. Na era digital, ele precisa confiar na loja e apostar que pode ter suas necessidades atendidas satisfatoriamente.

Conclusão

Como vimos neste material, as grandes tendências do mercado automotivo impactam o setor sob óticas diferentes e, por isso, precisam ser compreendidas dentro da perspectiva de atuação de cada negócio.

Para as concessionárias, a mudança mais evidente revela-se no processo de venda de um carro. Agora as demandas são cada vez mais digitais e esses canais on-line são, hoje, a principal fonte de informação dos clientes.

Tudo indica que o passo seguinte será a compra e venda de um carro feitas totalmente pela internet — as primeiras ações nessa direção estão sendo tomadas durante a quarentena.

O crescente papel do digital também se aplica à experiência de dirigir. Os consumidores querem combinar mobilidade com comunicação. Uma amostra disso está no estudo da PWC sobre o carro do futuro. 

Dentro de um curto período de tempo teremos veículos conectados que forneçam dados em tempo real e recebam atualizações anuais de hardware e software. O veículo do futuro também poderá notificar quais elementos precisam de manutenção, atuando de forma preditiva e diferente do funcionamento atual, calendarizado.

Essas são mudanças que definitivamente afetam não apenas o comércio de automóveis, mas toda a cadeia de serviços prestados aos consumidores, que buscam cada vez mais conveniência.

Por fim, atender bem e oferecer uma excelente experiência de compra ao cliente estará no centro de tudo. E esta é a minha previsão final.

Acredito que os revendedores de veículos e concessionárias terão um papel muito mais ativo neste novo modelo do varejo automotivo. Para isso, deverão padronizar o processo de venda em todas as suas lojas para garantir uma experiência consistente e contínua (e cada vez mais online).

As empresas que não conseguirem adotar essa visão terão dificuldade em manter seu lugar no grupo, por mais bem-sucedidas que tenham sido no passado.  O mesmo vale para o profissional de vendas, que precisa acompanhar todas essas mudanças: para isso é fundamental treinamento, mudança de mentalidade e capacitação.

Então, aí está, essas são as minhas previsões — mas, novamente, isso não é uma versão final. Gostaria muito de ouvir o que você pensa. Perdi alguma tendência? Deixe aqui nos comentários.

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Sobre o Autor

Tiago Fernandes
Tiago Fernandes

Administrador, sócio-fundador e CEO da AutoForce.

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